Considerações sobre a herança de cores
Entre as quase 400 variedades de cães há um enorme número de padrões de cores e nuances.
O presente artigo não pretende esgotar o assunto, mas pura e simplesmente prover meios de abordá-lo de sorte a permitir um entendimento global da herança de cores.
Entre as quase 400 variedades de cães há um enorme número de padrões de cores e nuances e quase o mesmo vasto númeto de métodos de herança dessa cores.
Por problemas de espaço vou me restringir neste artigo àquelas raças que descendem do Bulldog e uma outra além que tenham as cores vermelho, dourado (baio) e tigrado, mas que não são descendentes do antigo “Sourmug”. Essas raças, que lutavam com os touros são o próprio Bulldog, o Boxer, Bullmastif, Bull Terrier Miniatura e o Staffordshire (e o seu primo, o American Pit Bull Terrier) o Bulldog Francês e o Bosto Terrier.
Para escrever o presente artigo, e sem o menor constrangimento, fui beber a sabedoria da Sra. Winky Mackay-Smith, a maior criadora norte-americana da raça Bull Terrier, e de seu esposo Matthew, renomado médico veterinário. Assim vista que essa nova forma de ver a herança de cor torna um assunto bastante confuso em algo fácil de entender.
BASTANTE COMPLICADO
Para minha compreensão, todo o assunto que engloba genes, alelomorfos, dominância, é complicado em excesso. Assim, busco métodos, explicações, orientações enfim, que não me conduzam a águas tão turvas e que compensesm minha falta de conhecimentos.
A forma prática de estudar a herança das cores que vamos apresentar permite que possamos predizer acuradamente quais as cores que irão aparecer numa ninhada e quais as que não se farão presentes.
Basicamente as raças com o prefixo Bull são vermelhas ou douradas. Outras cores, como preto, branco, tigrado, azul e fígado, cores possíveis de aparecerem, podem ser encaradas como camadas de pelagem extra, se assim você quiser considerá-las, que podem ou não sugerir como enfeites.
O vermelho e o dourado são, pos si mesmos, sujeitos a três outros fatores; podem ser limpos ou sujos, ou seja com a mesclagem de pelos pretos no focinho, por vezes no dorso e na cauda, e ocasionalmente nos pés. Vermelhos e dourados limpos, puros, não t4m outras marcas de cores.
O terceiro fator que pode alterar vermelhos e dourados, e portanto todas as cores, há que são todas basicamente vermelhas ou douradas, é a ausência de cor, que produz o cão branco. O branco não é uma cor, mas a ausência de cor. Por definição, o branco de uma superfície não absorve nenhuma das cores visíveis do espectro da luz solar, e por isso é branco.
NUNCA É TOTAL
A ausência de cor nessas raças jamais é total, como ocorre em outras raças sem a menor relação com as aqui abordadas, como o Samoyed ou o Poodle branco. Frequentemente animais brancos das raças com prefixo Bull tem alguma marca colorida na cabeça, e menos frequentemente no corpo.
Sempre existirão pequenos pontos coloridos atrás das orelhas que, vista através de uma lupa, revelarão as cores portadas por aquele determinado cão. Em muitos casos o branco pode ocorrer apenas nas pontas, pernas, pés, peito, rosto e extremidade da cauda.
Nesse caso o branco é a cor de fundo da pelagem do cão e é recessivo, o que significa que só acasalando dois cães brancos ele produzirão uma progênie branca. Poderão ser portadores de qualquer das outras cores mas somente as revelarão na forma de pequenas manchas na cabeça ou no corpo, o que demonstrará uma incompleta ausência do fator cor, o que produziria um cão totalmente branco. Marcas em cães brancos também são evidências da cor de que são portadores.
Falemos agora do vermelho claro e do dourado claro que parecem ser iguais, não se sabendo se um é dominante ou recessivo sobre o outro. Dois Boxers dourados, acasalados, produzirão somente dourados, dois vermelhos produzirão dourados e vermelhos, como ocorre quando se acasalam um vermelho com um dourado.
É bastante difícil determinar se um cão é vermelho ou dourado, pois pode o presumido vermelho ser um dourado com bastante pigmentação. Qualquer combinação de vermelho e dourado pode produzir o branco desde que o gene que controla a ausência de cor esteja presente na raça. Por exemplo, ele não existe no Bullmastiff, e assim não há Bullmastiff branco.
A mescla de vermelho e dourado comporta-se da mesma forma que vermelho claro e dourado, com exceção de que estes apresentam pigmento escuro nos locais já antes mencionados.
UM FATOR DOMINANTE
O tigrado é dominante, o que quer dizer que, se estiver presente no cromossoma, ele aparecerá. Na realidade, se um dos pais apresentar o fator tigrado, este aparecerá na ninhada. O tigrado não pode ser portador oculto sob outras cores como pode o vermelho, branco, dourado, preto, azul e fígado. Um cão branco, portador do fator tigrado, apresentará esta cor em pequeninas manchas atrás das orelhas. Se apresentar essa evidências, pode estar certo de que, geneticamente, ele pode transmitir o tigrado.
O tigrado é um a espécie de cobertura sobre um fundo de cor mais ou menos evidente. Se estiver sobre um fundo dourado claro o cão será tigrado claro. Se se sobrepuser a um fundo vermelho, o cão apresentará um tigrado avermelhado, cor de mogno o sonho de todo criador de Bull Terrier e de Boxer. A cor dourada ou avermelhada poderá ser vista entre as estrias escuras, de intensidade variada, conforme seja um dourado forte ou débil ou um vermelho intenso ou fraco.
No que respeita ao preto, temos a dizer que é recessivo ao tigrado, vermelho e dourado. Se a cor preta estiver presente através de apenas um dos pais, as manchas vermelhas ou douradas na cabeça e pernas serão sujas. Se a herança do preto vier de ambos os pais o cão será preto, com marcas vermelhas ou douradas na cabeça ou pernas dependendo de qual venha a ser sua cor de fundo.
Pode ainda ter a cor branca, o que o tornará um tricolor. Se também tiver o fator tigrado, será um tigrado escuro (com branco se este também estiver presente geneticamente) porque o tigrado é dominante e se evidenciará se estiver presente nos cromossomos, sobrepondo-se às cores básicas recessivas dourado e vermelho.
Um tigrado escuro apresentará marcas tigradas nas pernas, rosto e peito, e não obstante o preto ser recessivo, o tigrado é dominante e permite que um tigrado é dominante e permite que um tigrado escuro geneticamente possa se apresentar com as cores tigrada, vermelha, dourada e preta, bem como sua própria cor tigrado escuro, com ou sem marcas brancas.
Um cão preto sem o fator tigrado será preto e fogo. A cor fogo, clara ou escura, indicarã se ele é possuidor da cor dourada ou vermelha. Se tal cão for ainda portador do fator branco, será tricolor.
BEM PESQUISADO
No Bulldog Francês, Boston Terrier e Staffordshire, raças em que os acasalamentos de tigrado com tigrado são repetidos por muitas gerações, alguns cães são praticamente pretos sólidos. Contudo, como mostram as pesquisas, tal cor sólida é nessas raças geneticamente impoissível e um exame acurado sempre revelará a presença de pelos coloridos.
Pelo que sei o preto e fogo não ocorre em Bulldog Francês e nem em Boston Terriers, mas ocasionalmente aparecem nos Staffordshire Terriers e quando isso ocorre não são vistos com bons olhos, não aparecem em público e deles nem se fala! Não obstante poderem aparecer nos Bulldogs, o preto e fogo não são desejáveis.
Jamais ouvi falar na existência de um Boxer preto e fogo, apesar da raça apresentar bastante branco, valendo notar que uma das pedras fundamentais da raça foi um Bulldog branco. O padrão preto e fogo e o tricolor ocorre com bastante frequencia no Bull Terrier e no Bull Terrier Miniatura, padrões que são aceitos como corretos, provavelmente porque quando foi re-introduzida a cor no Bull Terrier nos primórdios deste século, um dos cães de cor estão usados foi uma cruza de Bulldog com Manchester Terrier.
O cão absolutamente preto como ocorre na raça Labrador Retriever é inexistente nas raças Bull. Os cães brancos com manchas irregulares de cor são encontrados apenas na raça Bulldog Inglês, Bulldog Francês, no Stafford Terrier e no American Pit Bull Terrier.
FAMÍLIAS DIFERENTES
As raças que não apresentam as cores brancas, azul ou preta são o Mastiff e Bullmastiff – são dourados, vermelhos ou tigrados. O Dogue Alemão, no entanto, pode ser preto, azul ou arlequim (manchas pretas ou azuis sobre o fundo branco) e o preto sólido, sem pontos cor de fogo.
É provável que os Doques pretos, azuis e arlequins sejam uma família geneticamente diferente dos dourados e tigrados, e é notória as diferenças na conformação da cabeça. Entretanto são uma raça que não se inclui no escopo deste artigo.
O azul e o fígado são ambos formas diluídas do preto, e no Dobermann estas cores, juntamente com o dourado podem ocorrer, mas sempre com a cor fogo nas extremidades – o tigrado não existe na raça Dorbermann. Os vermelhos-chocolate de que falam os criadores são na realidade fígado, pois a cor vermelha não ocorre no Dobermann, não obstante estar presente no Pinscher e no Miniatura Pinscher.
É bastante frequente a ocorrência da cor fígado no Bull Terrier e Staffordshire Terrier sendo que neste é bastante comum surgirem dourados-azuis, padrão não desejado pela correlação que apresenta com os olhos claros, com a consequente expressão pobre frequentemente observada nos espécimes azuis.
O QUE AINDA PODE OCORRER
O Bulldog pode apresentar qualquer dessas cores, desde o branco ao preto e fogo, apesar de eu jamais ter ouvido falar de algum azul. Preto e fogo e fígado ou “Dudley”, como chamam os conhecedores da raça, são totalmente condenados e nunca são mostrados, e assim se torna difícil avaliar sua incidência. Mas que ocorrem, ocorrem.
Tudo isso pode parecer bastante complicado, mas tudo se tornará mais fácil se você considerar seu cão seja com a cor dourada, seja com a cor vermelha, sobrepostas com as outras cores, o tigrado em cima, o branco em baixo.
Por vezes essa vestimenta de cor sobre as cores de fundo não vão bem. É o caso do branco – a ausência da cor – que na sua presença na parte inferior do cão atinge as pernas, peito, pescoço, cabeça e ponta da cauda, como no Boston Terrier e no Bull Terrier.
Se você olhar cuidadosamente seu cão, tendo em mente os itens que abordei neste artigo, você saberá exatamente quais cores ele porta, e portanto aquelas que pode transmitir não se esquecendo de que, em se tratando de cor, tanta a herança paterna como materna apresentam o mesmo valor.
Por: Tom Hormer
Revista Atualidades Caninas Veterinárias
CÃES DE FATO / JULHO / AGOSTO 2004 nº 36